terça-feira, 22 de julho de 2008

Suspensa


Minha amiga
passeia sobre a casa
com seu olhar primeiro,
com seu mistério amoroso,
suas chaves de ouro.


Desenho seu corpo em meu sono.
Limpo o sal de seu rosto
sobre a toalha mais limpa.
Sob verões, frutas e pedra
desenho seu traço
- um pássaro que aperfeiçoa o amor.


Minha amiga
permanece suspensa
na mesma tarde
em que o gesto imitou
a cor do amanhecer.


Na casa,
que penso ser minha,
meu coração abraça seu coração.


Um dia minha amiga não voltou.
Perguntei ao porteiro: a viste?
Ao PM: a viste?
Ao engarrafamento: a viste?
Ao trem que passa...


Ficaram o ouro da gaiola,
o bater das portas,
suas roupas espalhadas pela minha vida
sendo a minha própria e definitiva casa



quinta-feira, 17 de julho de 2008

O poeta dançarino fala sobre o amor...


Caro leitor, permita-me compartilhar, com imensa alegria, do cantar de um poeta dançarino, que também é música silenciosa, cujos versos iluminaram e iluminam a reflexão sobre o outro, sendo fonte incessante de mistério e deleite poético. Trata-se de um dos maiores poetas místicos que humanidade vislumbrou: Rumi, ou Mawlānā Jalāl-ad-Dīn Muhammad Rūmī.



Rumi nasceu onde hoje é o Afeganistão e morreu na Turquia, em 17 de dezembro de 1273. Acreditava que o exercício do amor era essencial para o amadurecimento e aperfeiçoamento dos seres humanos. Pregava a tolerância, a bondade, a paciência, a calma e a compaixão incondicionais.



Eis um gostinho de Rumi para iluminar este blog:



Vem.

Conversemos através da alma.

Revelemos o que é secreto aos olhos e ouvidos.

Sem exibir os dentes,

sorri comigo, como um botão de rosa.

Entendamo-nos pelos pensamentos,

sem língua, sem lábios.

Sem abrir a boca,

contemo-nos todos os segredos do mundo,

como faria o intelecto divino.

Fujamos dos incrédulos

que só são capazes de entender

se escutam palavras e vêem rostos.

Ninguém fala para si mesmo em voz alta.

Já que todos somos um,

falemos desse outro modo.

Como podes dizer à tua mão: "toca",

se todas as mãos são uma?

Vem, conversemos assim.

Os pés e as mãos conhecem o desejo da alma.

Fechemos pois a boca e conversemos através da alma.

Só a alma conhece o destino de tudo, passo a passo.

Vem, se te interessas, posso mostrar-te.