segunda-feira, 18 de maio de 2009

Pai e filho



Quando os teus olhos se fecharam

na respiração da noite profunda,

estranhamente nasci.


Nasci predecessor de tua ortografia.

Do olhar mais que o beijo.

Da gratidão devota de uma fruta amadurecida.


O filho que não fui

estende-se alem do nascimento

para não conter a

necessidade das lagrimas,


fareja sonhos inacabados

no agasalho do que ficou no armário,

vencendo o frio

na eternidade das roupas esquecidas.


Perecer-me junto a ti

ou revelar-me na lembrança?


Encontrar asas no mar é sentir seu repouso.


E quando as ondas pousarem

seu dorso sobre as rochas

volto, como bagagem extraviada,

para o cosmos de teu passo envelhecido.


No naufrágio,

cada vento em parede se desloca.


As garças engolem a altura do arco-íris

ao esquecer-se no rosto das nuvens.


Nessa folha campestre,

erguida por tuas mãos,

Levo à tua forma definitiva

uma gota de orvalho.