Quando os teus olhos se fecharam
na respiração da noite profunda,
estranhamente nasci.
Nasci predecessor de tua ortografia.
Do olhar mais que o beijo.
Da gratidão devota de uma fruta amadurecida.
O filho que não fui
estende-se alem do nascimento
para não conter a
necessidade das lagrimas,
fareja sonhos inacabados
no agasalho do que ficou no armário,
vencendo o frio
na eternidade das roupas esquecidas.
Perecer-me junto a ti
ou revelar-me na lembrança?
Encontrar asas no mar é sentir seu repouso.
E quando as ondas pousarem
seu dorso sobre as rochas
volto, como bagagem extraviada,
para o cosmos de teu passo envelhecido.
No naufrágio,
cada vento em parede se desloca.
As garças engolem a altura do arco-íris
ao esquecer-se no rosto das nuvens.
Nessa folha campestre,
erguida por tuas mãos,
Levo à tua forma definitiva
uma gota de orvalho.